Os Autores e as Cidades

Muito antes de a comunicação massificar-se completamente, em função do rádio e, sobretudo, televisão, a literatura ocupava espaço significativo na construção dos imaginários de outrora. A Paris do entre guerras foi tão descrita em prosa e verso que hoje, quase um século depois, ainda se recria em função de tais relatos. Impossível não lembrar das Cidades Invisíveis de Calvino; e que tal os relatos de Goethe sobre a Itália? Toda a geração Beat americana, que incutiu na juventude transviada dos anos 1950 e 60, um desejo sem fim de por o pé na estrada. A lista é imensa.
É fato que ainda representa muito para muitos, mas em tempos de cinema hi-tech e conteúdos em ritmo de videoclipe, perde encanto para as novas gerações. Triste. Por outro lado, nunca houve produção tão intensa de títulos e autores. Em se tratando de produção para o turismo e as viagens há muito que ler. Nem tudo é bom, nem tudo serve.
Para aqueles que gostam de relatos de viagens, li recentemente, o Cantor de Tango, de Tomás Eloy Martinez. Um delicioso cruzamento entre literatura, história e geografia que nos conduz em um passeio mirabolante por Buenos Aires: para quem conhece a metrópole aguça o paladar; aos que não conhece – são muitos relatos de amigos – desperta um desejo enorme para caminhar por aquelas paragens.
A Companhia das Letras também lançou uma coleção bacana O autor e a Cidade: Carnaval no fogo de Ruy Castro sobre o Rio e O flaneur de Edmund White sobre Paris são excitantes viagens em literárias. Impossível não querer botar o pé na estrada.